quarta-feira, 25 de julho de 2012

ESTÉTIC@ & POLÍTIC@


Em 1968, Caetano Veloso profetizou o que viria a ser parte de nosso futuro político enquanto nação, após ser massivamente vaiado num festival de MPB da TV Record pela juventude dita revolucionária da época, que não aturou a novidade estética trazida pela tropicália. Caetano, em tom muito emocionado, praguejou contra a platéia: “Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos”. O pior é que ele estava certo! Passado o regime militar seria aquela juventude que assumiria o poder, agora velhos politicamente influentes e nada revolucionários.

Se para o pensador argentino, José Ingenieros, a velhice mediocriza os homens, para mim esse sintoma também pode acometer os jovens, tornando-os caretas. E esse processo de encaretamento traz consequências nefastas para a sociedade.

É difícil aceitar o novo. Os mecanismos de apreensão do mundo sempre resistem às mudanças. Esses mecanismos cognitivos são formados no choque entre os corpos e entre os campos de força que estruturam o sistema social vigente. Como disse Marcuse, “o homem é dominado pela riqueza em expansão de seu meio econômico, social e político, e vem a esquecer que seu livre desenvolvimento é a meta final de todas essas obras; em vez disso, rende-se a seu império. Os homens sempre procuram perpetuar uma cultura estabelecida; assim fazendo, perpetuam sua própria frustração”.

É mais ou menos isso que penso quando vejo, no período eleitoral, tantos jovens se portarem politicamente como seus avós. Acham-se revolucionários e não passam de pequenos conservadores repetindo o esquema no qual estão inseridos. Acham-se punks anarquistas, mas não passam de yuppies capitalistas. Todos querem propostas (mesmo que não sejam executadas ou executáveis), mas não novas idéias. Todos têm teses; nenhum antíteses!

Será que não temos o direito de apresentar uma nova textura política para o tecido social? Mesmo que o primeiro passo seja predominantemente estético? Mudemos a forma agora e o conteúdo logo em seguida, posto que o limite entre a forma e o conteúdo já caiu por terra antes mesmo daquela vaia dirigida a Caetano Veloso. Somos de uma outra geração, creio eu que mais ética e bem mais divertida. Não queremos enricar, não precisamos de mais milionários, precisamos de justeza social e crescimento intelectual. Queremos leveza no coração e liberdade na alma. E só através da estética é possível romper com a ordem epistemológica estabelecida. Só esteticamente conseguiremos sublimar essa política objetal. Chegou a hora da catarse, meus amig@s, chegou a hora de uma nova política para os novos cidadãos que aí estão e que hão de vir.

11 comentários:

Anônimo disse...

Um texto muito legal, sorte na caminhada. Se a intenção das palavras vieram do coração, tá tudo certo então! Mas pensemos que acima de cargos e do poder, o papel de quem realmente tá na batalha política é o da ética e o da estética dos "novos tempos", realmente. Estética da forma mesma, não vale, é contradição em termos por que o conteúdo muda historicamente e estética também, elas não separam de fato, só analiticamente. E a forma-conteúdo de nossa política tá sem beleza que nos encha os olhos e sua ética é quilométrica, de vacilos e incoerências em relação àquele que deveria ser o seu único telos: Ser escravo do bem comum, como todo cidadão, mais com a particularidade da vanguarda de combate necessária. Mas o maior problema , amigo Candidato, é que tem uns jovens na politica, que são tão caretas , tão caretas e antiéticos!! Forte abraço, mais um vez, belo texto.

HVB disse...

Adoraria saber quem é @ don@ do comentário acima, mas respeito seu anonimato. Obrigado pelas palavras.

Enio DS Jr disse...

Enio:

Acho que a palavra estética deveria ser recuperada e, com isso, pensadada no seu sentido origial de aisthésis: "sensações". Não só no campo do ver abstrato, mas na sensação crua. A separação entre forma x conteúdo também já foi superada. Para crer - e apoiar - tal separação, seria preciso crer que o corpo é o "templo do alma"; que o corpo, por si só, não basta. Com isso, digo: a forma já é seu próprio conteúdo. "Conteúdo", como fomos educados a pensar, é apenas uma meta narrativa, uma excrescência sobre o "objeto". Perdemos foi a capacidade de ver de forma direta. Como diria o poeta, "o mais profundo é a pele".

Ótimo texto, sobrinho de Schopenhauer.

Jorge Alexandro Barbosa disse...

Texto bem condizente com a realidade. Na minha humilde opinião vivemos um período sombrio, um momento de retrocesso que ainda não fazemos ideia onde isto vai nos levar. Os jovens parecem velhos, nã há ideias novas, posturas de mundanças novas. Onde está a juventude? Algo mais importante: onde estão as ideias transformadoras? As posturas que postulam ações? Concordo contido Henrique.

Sr. Anísio disse...

Entornando o caldo,
Belo texto camarada, mais antíteses é perfeito!
Contudo, sr. anônimo, acho injustificado o medo da forma. Mas concordo que o binômio da forma-conteúdo já não mais se justifica, sobretudo se pensarmos que os conteúdos são também formais, são também significantes.
Particularmente, gosto de pensar em estética como estudo das formas mesmo, a casa vazia é bela. Sem essa de conteúdo mais profundo ou o que o valha.
E quanto ao império da caretice... esse é foda, seja em forma ou conteúdo, não poupa ninguém, ou melhor, poupa demais a todos...
Só queria elogiar o texto e fazer coro dissonante as necessidades estéticas do por vir.

Guto Melo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Guto Melo disse...

Cara, bom texto. De fato, a caretice reina e há um enorme despreparo para assimilar novidades. No entanto, não acredito que integramos uma geração mais ética e divertida. Vejo que há uma minoria nessa linha. Prevalecem os caretas, conforme você destacou, e eles não são nada divertidos e não raro, para dar continuidade ao que já está estabelecido, faltam com a ética. Acho muito interessante a discussão que você está provocando. O teu cartaz quebra uma expectativa automática pela assepsia do sorriso forjado, dos slogans que materializam os clichês mais horrorosos. O teu cartaz é uma pedrada, em que a pedra é o próprio candidato. Uma pedra com a língua pra fora e com uma cara de quem tomou um remédio com gosto ruim. Não poderia ser diferente, pois a politica tal como está nos enjoa e sua ingestão é cada vez mais difícil. Sem contar que você se dirige aos caretas fazendo uma careta, o que é fantástico. Eles não conseguem ver o quanto estão passando mal, enfermos e debilitados. Então, careta neles! Parabéns pela campanha e saiba que minha admiração por ti só fez aumentar de tamanho. Te desejo força para continuar a introduzir os seus germes neste mundo sem eira nem beira, mas repleto de goteira. Sucesso!

tomas smot disse...

a politica de partidos é um negocio defasado e cada vez mas desimportante, acredito mesmo em movimentos como MST.
mais surpreendentemente o psol apresentou um otimo candidato a presidente em 2010. não acho que que exista um caminho único, ainda bem que tem gente pensando dentro dessas siglas

HVB disse...

‎Guto Melo, tu és foda meu velho! Quando estava escrevendo o texto ainda pensei em mudar "geração" por "estirpe", mas não sei porquê não o fiz. abração, meu compadre...

HVB disse...

Enio, meu pequeno Stirner, quando penso em estética sempre penso em aisthésis! Culpa de Ângelo Monteiro e sua cadeira de Filosofia da Arte. Valeu, cara.

Jorge e Anísio, fico feliz belos comentários...

Tomás, acredite, ainda há, no mundo, quem pense!

cositas disse...

belas palavras henrique...o bom é que nos choques entre corpos e campos existem os encontros sociais, a ruptura, o contra-discurso, as vontades humanas mais individuais. mas, sinceramente, não acredito que estes encontros são livres nas amarras do poder, dEste poder estatal, explorador dos homens e das almas, como diz thoreau. eu quero acreditar no anti-poder, na pequena prática, para além da ação coletiva, mas que se pode fazer a partir desta. na ação cotidiana,exercer nossos poderes cotidianos..digamos, tais quais os conselhos gestores do psol, por ex., mas sem a amarra partidária...sei lá..beijos e suerte, camarada!