quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Só, Somente Só

Desde que me conheço por gente, ou melhor, desde que me reconheço como homem, como macho... Tenho levado porrada na vida! (com o perdão da licença poética, querido Pessoa). Tive algumas grandes paixões em minha louca e turbulenta vida; e sempre, de alguma forma, ou épica ou trágica ou cômica, acabei por perder a tal garota da vez.

O primeiro grande amor desse meu mundinho romançal, lá nos idos da adolescência, foi por demais dilacerante. Após uns três anos de namorico, havia eu quebrado a perna pela primeira vez e em plena fase de recuperação (de muletas ainda) ela me aparece e diz que não dá mais, que somos muito diferentes, que sou muito porra-louca e que ela é quase crente (a verdade, querido leitor, é que ela era a típica adolescente-micareta e eu o típico adolescente rock-metal-black). Resultado: fiz drama, chorei, larguei as muletas, joguei-me ao chão e mesmo assim ela se foi. Consolação: meti a cara em Augusto dos Anjos e percebi que ela estava certa.

A minha segunda paixão juvenil já foi naquela fase de transição do segundo grau para a universidade e oh, Deus, como foi difícil! Primeiro porque a mãe dela me detestava. Segundo que após o vestibular fomos estudar em universidades diferentes, em cidades diferentes. A distancia é fator crucial para relacionamentos, seus extremos podem ser destrutivos. Resultado: meses depois voltei para minha cidade natal e tudo já estava acabado. Consolação: fiz outro vestibular e aceitei o destino por julgá-lo inevitável.

Outras duas oportunidades de sofrimento romântico aconteceram na universidade (como não podia ser diferente). Foi tudo intenso e vivido. Cheio de brigas e festas. Com muita cumplicidade e divergência. Viajens e viagens. Traição e fidelidade. (Não que os casos anteriores não tenham sido, mas eram carentes de alguma vivência mais madura e desenvolvida, principalmente no campo sexual.). Nesses dois amores o final foi muito similar. Uma criou uma paixão platônica por um cara, e isso foi o começo do fim, depois disso brigamos muito, acabamos e retornamos algumas vezes e enfim terminou. A outra me deixou depois de muitas fuleiragens minhas e de ter encontrado uma paixão repentina que durou alguns meses e gerou certo desconforto e arrependimento por parte dela. Resultado: Nos dois casos me fudi, apesar da efervescência sexual da época, tentei retorno em algum momento pra depois desistir. Consolação: praticamente emendei um namoro no outro, a primeira com a segunda e a segunda com uma terceira, da qual vou falar agora.

As últimas dores são sempre as maiores, porque perdemos a dimensão das primeiras. Dessa vez foi tudo muito "simples", a doida simplesmente disse que não queria mais pois era muito nova e precisava viver "novas" experiências e blá, blá, blá... Na verdade fui eu que percebi a coisa toda, de forma quase que mediúnica, intuitiva, e puxei assunto pr'uma conversa que descambou nessas tais revelações. Esse desejo cego e inconsequente que desenvolvemos em nós sempre nos torna patéticos. Resultado: dessa vez não insisti nem fiz escândalos e estou engolindo a seco minha dor. Consolação: não sei ainda, trepei com uma menina que conheci recentemente mas nada mudou em meu peito.

Em todos esses casos relatados até agora, passei mais de dois anos com a fêmea em questão. É óbvio que tive outras mulheres e outras paixonites ao longo da vida, mas ia ser muito penoso pra mim ficar lembrando de tudo e muito chato pro leitor ficar lendo meus gongorismos melosos (como diria o poeta Lara). O fato é que eu acho que vou acabar sozinho. Sempre que me apego sobremaneira a alguém, o relacionamento desanda. Talvez eu faça algo inconscientemente pra afastá-las de mim! Talvez eu não seja o indivíduo certo pra procriar e perpetuar a espécie! Talvez eu dê trabalho demais! Talvez eu beba demais! Talvez eu trepe mal! Sei lá, de uma forma ou de outra, essas coisas não estão me incomodando tanto mais. Acho mesmo é que todos vamos findar sozinhos.

*

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SEXO, DROGAS, ADOLESCÊNCIA E CLASSE

Não entendo como algumas pessoas conseguem ser tão despojadas com relação ao próprio corpo e a sua sexualidade! Principalmente em se tratando de adolescentes da chamada “grande classe média”; (refiro-me aqui a classe média com três níveis diferentes na hierarquia social – média alta, média média e média baixa – em relação a quantidade de Riqueza, Prestígio e Poder adquiridos ou atribuídos, mas mesmo assim muito similares nos comportamentos e costumes desenvolvidos ao longo de sua vida sociocultural).

Festinhas orgíacas e drogas que circulam nesse mundinho pequeno burguês da classe média já é rotina há algum tempo na vida de boa parte dos nossos jovens, isso sem falar em cigarros e álcool que são muito mais acessíveis e aceitos socialmente. Não tenho nada contra sexo e drogas em geral, afinal de contas todo mundo quer ter prazeres ao longo da vida para ajudar a suportar a angustia da existência humana; além do mais, estudos históricos mostram que em todas as sociedades existiram formas, lícitas ou não, de se entorpecer, individualmente ou coletivamente. Pro bem ou pro mal não deixa de ser uma “válvula de escape” social.

O que me perturba é a confusão que esses jovens sujeitos fazem com coisas e conceitos fundamentais na formação do caráter da pessoa humana. Conceitos e atitudes importantes para a consolidação de pilares de sustentação do cidadão moderno.

Por exemplo: liberdade é muito diferente de desregramento; vida sexual ativa e saudável difere absurdamente de promiscuidade; maleabilidade de valores se distancia demais de corrupção.

Como poderia ter dito nosso querido e polêmico jornalista e teatrólogo, Nelson Rodrigues, o problema da classe média é que ela parece gostar de ser corrompida e querer ser corrompida.

Somos corrompidos diariamente com produtos culturais de baixíssima qualidade veiculados pelos diversos meios de comunicação à revelia de uma indústria cultural alienante. Indústria essa que só se importa com o lucro e que é conduzida por nós mesmos, já que emprega essa tal classe média e seus três níveis, sem que a mesma faça nada para intervir nessa realidade. Somos corrompidos por uma alta burguesia que explora a classe trabalhadora em troca de um salário de fome, e novamente não fazemos nada em prol desses irmãos, pior, reclamamos se esses trabalhadores entram em greve e essa greve nos atrapalha de alguma forma. Somos corrompidos a todo instante por cafetões e traficantes que estimulam a prostituição infantil e o tráfico humano, sabendo que uma parcela dessa classe média vai querer consumir garotas de 13 ou 14 anos de idade como se fossem produtos de supermercado. Somos corrompidos em nossos carros quando algum pobre diabo, viciado em crack, nos aponta uma arma para nos subtrair uma porcaria de celular e não fazemos nada. Somos corrompidos por um poder público que cobra os maiores tributos do mundo e não nos dá um retorno compatível com o que pagamos de impostos. E por aí vai, a lista deve ser interminável...

Karl Marx, ao tratar da classe média das sociedades européias, escreve em seu Manifesto Comunista, “as camadas médias combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como camada média. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda, são reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da História.” Será que isso se aplica a sociedade atual? Talvez, mas o fato é que carecemos de uma classe média consciente de sua representação social ou então jamais mudaremos a condição desse país.
O meu medo é que esse comportamento da juventude de hoje seja determinante na involução de nossos adultos do amanhã! Como os hippies americanos dos anos 1970 que ao se tornarem adultos nos anos 1980 se transformaram em yuppies, ou seja, pequenos burgueses que só reproduziram o mesmo sistema que tanto lutaram contra. Ou os tais grupos “revolucionários” comunistas no Brasil da época da ditadura militar, que ao final do regime autoritário entraram para vida pública e viraram o mesmo tipo de político direitoso anti-revolucionário que durante o regime bajulava os nossos ditadores...

Pode parecer caretice, mas essa patologia social, tomando emprestado uma expressão de Émile Durkheim, que atinge e assola nossa juventude de classe média deve ser combatida com diálogo aberto (tanto por parte dos pais, como da parte dos professores), sem hipocrisia ou falso moralismo, sem pieguices ou clichês idiotas; e principalmente com muito bom senso e uma educação crítica, vívida e producente. Aliás, o conhecimento aliado à sensibilidade é, quiçá, a solução para todas as classes e faixas etárias do mundo.