sexta-feira, 1 de outubro de 2010

REVI e vendo outríssima vez...

Estava demais convencido quando acordei de mal. Abri a tampa da privada com uma só mão. Precisei da outra para me apoiar e sair do esgoto sanitário de meus aposentos cagados. Fiz força, quase me caguei de novo (acho que não tinha feito antes), é muito foda levantar o corpo pelos braços – alguém que já tentou, sabe! – é como sair da merda...

Estou vindo – pensei – de lá de dentro para fora.
Então: Meu próprio banheiro me disse: vá e seja breve, saia de mim... Não tenho a cura inteira pra todo o mundo.

Estava convencido demais quando saí. Caí ao chão. Todo molhado e inodoro. (a câmera me saca de lá, longitudinalmente; reality show...). Agora, do lado de fora do vaso, eu poderia me erguer sem ter que lamber os azulejos e sentir de novo aquele gosto velho de cobre com meia cozida ao conhaque e parmesão.

Com certo esforço fiquei de pé. Sinto o suave escorar da pia do banheiro na barriga. Não me reparo me olhando e bem me vejo me brechando aos poucos. Grito sozinho: VOU ESCOVAR OS DENTES! Minha escova se derruba na pia e isso me trás certa angustia microbiológica. Escovo mais ou menos os cabelos deixando a barba por fazer (ninguém deveria ter dentes, hoje em dia, são tão desnecessários quanto as unhas!).

Decidi. É decidido. Não vou ao escritório. Não trabalho hoje. Não tenho nenhum trampo mesmo!?! Então abro a porra da porta da farmacinha do banheiro e me jogo dentro. (só Zeca Viana entenderia o que canto agora, meus bagunceiros pesares!). Começei a entrar de frente e depois paralelamente. A cabeça, o tórax, o encéfalo-torax, os braços e as pernas, que ficaram um pouco de fora - Dasein, eu disse, e fudeu a merda!

Entrei em mim.



Obs.:
Dasein: conceito filosófico de Martin Heidegger.
Zeca Viana: músico pernambucano radicado em São Paulo.