quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Diário de Bordo do Turismo da Percepção

Estou em São Paulo, são 23:55 do dia 10/11/2009, cheguei há cinco dias atrás e não fui ver muita coisa ainda. Acabou de faltar energia aqui e da janela do apartamento em que estou alojado dá pra ver que em boa parte da cidade também.

Meus amigos em Recife e meus amigos de Recife que aqui estão residindo, recomendaram-me um monte de programas interessantes, divertidos e culturais; pelo menos é o que me prometeram todos. O problema é que não sou muito turista, nunca fui de “turistar” pelo mundo, de sair batendo perna por aí e comprar lembrancinhas para parentes e agregados.

Não digo com isso que não gosto de Conhecer as Coisas... Gosto! Só não tenho essa doce ilusão do Novo neste apresentar-se ao Conhecer. Prefiro deixar a Consciência perceber as Coisas em suas estruturas existenciais! Com efeito, para mim me parece que toda cidade é igual, toda praia é igual, toda montanha é igual, toda gente é igual e da mesma Forma se manifestam (cidade-praia-montanha-gente) dentro de suas próprias Semelhanças e Diferenças...

Por tanto, a Realidade se apresenta a mim e minha Percepção Sensorial e Consciente lhe capta e lhe transforma em Conhecimento que acabo tomando como uma Verdade ao mesmo tempo Particular e Universal; mas que me deixa extremamente desconfiado com todas as Coisas e com todas as Pessoas que interagem deslumbradamente com todas as Coisas.

Contudo, não quero parecer ranzinza e despropositado. É bom viajar! É muito bom desbravar o Mundo da Vida! Digo mais, é necessário! É necessário tanto do ponto de vista interpessoal, quanto sob o jugo da ótica da humanidade.

Foi importantíssimo para nós quando nossos ancestrais, em sua aguçada curiosidade, desceram das árvores (ou seja, deixaram de ser arborícolas) e saíram da África para povoar o planeta. Ou Alexandre, O Grande, com sua vontade de poder e de saber, espalhando Alexandrias pelo Oriente. Ou Roma, na sua vontade de dominar e civilizar, expandindo o Império pelo mundo até então conhecido. Ou quando, em seu senso de exploração mercantilista, homens se atiraram ao mar em busca de especiarias e encontraram o novo mundo. Ou antropólogos, como o recém finado Lévi-Strauss, que desenvolveram sua etnologia bem longe de seus gabinetes, em viagens para tribos distantes. Ou mesmo caras como eu, que me desloquei de Recife pra cá com uma finalidade pulsante de assistir ao show do Faith no More...

Enfim, vou dormir, amanhã tem mais turismo pra ser feito...


***


P.S.: Descobri agora que essa falta de luz aqui em Sampa foi um tremendo black out na região sudeste desse meu paíszinho de merda. Assunto pra outro texto sobre Política e Desenvolvimento; mas só se eu tiver saco pra escrevê-lo.
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7 comentários:

Unknown disse...

Yes! O Nordeste também tem blackout!

Fábio Liberal disse...

Talvez seja essa a justificativa usada pelo aeroporto internacional dos guararapes quando eles transmitem as maravilhas da cultura pernambucana exibindo o clipe de "olha olha olha olha olha a água mineral", nos telões espalhados pelas salas de embarque e desembarque, afinal de contas, toda música é igual.

Bernardo Jurema disse...

hvb, mais um texto ótimo! haha

aguardo com ansiedade o próximo, sobre desenvolvimento! arrume saco aí em sampa pra escrevê-lo!

Maria Lemos Lins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Lemos Lins disse...

Me identifiquei com o texto.
Tenho medo de achar q toda praia é igual a outra, toda montanha é igual.
Vou explicar: Temo q pensando assim, esteja compartilhando menos com o q faz o autor do blog sentir as coisas dessa forma, já q considero normais os seus motivos e q a minha percepção sobre tais coisas seja fruto de minha personalidade melancólica.

HVB disse...

valeu, meu povo!
sei que é difícil e chatão ler egolombras alheias...

Olga disse...

exercitar o músculo da consciência. perceber o mundo em suas estruturas acaba por diluir, um pouco, a ideia do turismo. Nos coloca,como parte de um mesmo pricipio e fim... a mesma merda que somos aqui ou ali.
temos que buscar nas sutilezas Coisas pra nos emocionar e vibrar alguma coisa aqui ou ali. Sei lá.

Não são chatos seus devaneios, sua lombriga-ego.