sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cultivo da Miséria

Existe uma coisa chamada de “cultura da miséria”. (não lembro bem a quem pertence tal definição, se é de alguém que li – Manuel Castells, talvez... – ou se é uma daquelas coisas que a gente vai observando ou criando como uma colcha de retalhos-prático-teóricos e sendo assim não nos pertence por inteiro; é só mais um retrato das coisas-do-mundo, construído sem nenhum photoshop!).

Pois bem, acho que existe esse tal conceito e ele prega, grosso modo, que a miséria humana se produz e autoreproduz em alta escala sócio-universal (...) ou seja, quando o indivíduo se encontra em determinada situação de pobreza extrema, de miséria e de desumanidade, ao contrário do que se poderia esperar, ele tende a usar mecanismos de autopreservação que o forçam a reproduzir automaticamente sua própria miséria e a de seus descendentes. Por ser um sujeito privado de direitos e carente de deveres ele se vê forçado a repetir táticas de sobrevivência que alimentam um ciclo vicioso dado pelo sistema, que não só o mantêm na miséria como o obriga a miserabilizar-se entre os seus.

Mas não para por aí. As algemas sociais da pobreza criam outras algemas num mundo de dependência irreversível!

Essa reprodução da miséria material no seio dos centros urbanos é também determinante na produção e reprodução de uma miséria intelectual profunda. Mesmo com a avalanche de conhecimento produzida diariamente e com toda facilidade de transmissão de informações na hipermodernidade da cybersociety, essa massa de seres ignóbeis e miseráveis se apresentam cada vez mais estupidificados e anacrônicos no mundo!

E nem adianta vir me falar da linda história de vida de fulaninho ou beltraninho que, mesmo em situação de calamitosa miséria, “venceram” na vida. Isso é exceção e não regra! Além do mais, esse tipo de caso se reporta a sujeitos que tiveram algum suporte na vida: seja do Estado, seja de ONG’s, seja de Instituições Religiosas, ou até mesmo de Particulares; e geralmente não são tão miseráveis assim...

Distribuição de riqueza e benefícios ou pequenas vantagens aos mais desfavorecidos, ainda é um doce sonho na sociedade moderna capitalista dos países emergentes e de alguns países até bem desenvolvidos...

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3 comentários:

Mayara Pera disse...

lendo esse texto me senti lendo coisas da minha aula de sociologia!

Já disse que curto né?

beijocas

HVB disse...

acho que disse sim, mas é sempre bom ouvir (ler) de novo!
hehehe...
muito obrigado, D. Pêra.

Mariana Azevedo disse...

Esse post me lembrou a fala que eu vi de Jessé Souza há uns 20 dias em ocasião do lançamento de último livro: A Ralé brasileira, que comprei até. O que mais me instigou foi a visão interssante dele sobre essa ralé, que afora a questão estrutural (leia-se econômica) segundo ele, está desprovida dos pressupostos culturais necesários à sua saída dessa condição de ralé, mesmo que haja uma mobilidade social no quesito renda. Uma análise bem Bourdieusiana que tua ia gostar. beijo!