sexta-feira, 29 de julho de 2011

O POBRESTAR

Prelúdio

A vida é estranha. As pessoas admiram as entranhas cotidianas de outras pessoas quando essas outras pessoas são igualmente falidas, porém famosas. Assim começou meu rebuliço. Sou falido e um tanto quanto famoso, mas nunca pensei que fosse me fuder completamente por conta disso. Minha família me adora.
A família dos outros também.
Meus amigos me idolatram.
Os amigos deles também.
E os daqueles.
E os daqueles outros também.
Sempre me dei bem com as pessoas e creio que elas sempre roubaram algo bom de mim. (Mesmo que me odeiem em seus íntimos feministas...)
Trabalho e vou continuar trabalhando para tornar os outros felizes, só que até então não achava que...

...Interlúdio

Eu vinha de mais uma grande turnê pela América da vida latina. Dormia no leito do BUS Express, quando me dei conta que chegara a minha terra natal. Gentilmente pedi a uma senhora, que dormia (ou fingia que dormia!?!) com minha glande na boca, para recompor-se. Ela me disse com voz abaloada:

- Espere que ainda vão descarregar o trem...
E eu:
- Estamos num ônibus, Madame.

Ela me olhou como quem quer ouvir Motorhead e eu fiquei com medo e esperando um pouco de compaixão. Saí Dalí com uma sensação de leveza presa, sinuca e bolas de gude. Continuei a faina até o metrô. No metrô, tentei me esconder da minha cara estampada nas revistas e jornais que anunciavam meu fantástico sucesso da turnê pelo mundial umbigo.
Reconheceram-me:

- Você é aquele cara, né? O cara que faz as coisas acontecerem assim? Né tu, não?
Eu disse:
- Não. Mas bem que poderia ser qualquer um! Né, tu não?
E a pessoa disse:
Bem que eu queria! Queria muito mesmo! Mas mesmo, muito, não!

Achei estranha a criatura. Mas esqueci. Parecia que tal figura pensava como eu. Esqueci. Embora fosse um tanto aparvalhado. Esqueci. Se bem que minha precaução esquecida não me adiantou muito. Ao fazer a integração (do metrô para o ônibus urbano) fui perseguido por uma falange de jovens anestesiados.
Reconheceram-me e queriam postas propostas em seus aquários.

Disse-lhes:
Estudem, trabalhem, perseverem e gozem dentro.
Todos e todas gemeram e caíram embolando pelo chão sujo da estação de baldeação do metrô pro famigerado busão. E gritavam:
- Deixem-no passar!!!
- Deixem-no passar!!!
- Deixem-no passar!!!

Sentei na frente. O motorista me acenou como quem me conhecesse a longos anos. Sorri. Abri meu cinto e me relaxei completo na cadeira para deficientes. Soltei um peido altão, mas sem muito fedor. Macacos se acotovelavam para subir pelas janelas. ARRASTA MOTÔ, gritavam os sóbrios involuídos trabalhadores. A cobradora do ônibus me pediu desculpas pela barbárie e disse que tinha feito um curso de teatro gay comigo no ano de 1997.
Perguntei se precisava conversar. Ela respondeu: ARRASTA MOTÔ!

Por motivos pouco mecânicos, paramos na frente de uma igreja superpostal. Pastores me puxavam pelo braço e diziam sentir minha falta nos cultos de purificação renal. Tentei explicar a idéia da hemodiálise. Não adiantou. Tentei falar da fé na difusão simples e facilitada. Nada. Usei economia doméstica e engenharia mecatrônica. Finalmente entenderam e quase me deixaram em paz.

Um deles (dos Pastores) me disse:
- Nunca mais apareceu. O senhor tem que voltar aqui! Precisamos ordenhar nosso rebanho! A sociologia só se apega às fraquezas coletivas...

{Ficaram com os olhinhos esperando minha resposta e a vontade que eu tinha era de gritar:
[- ARRASTA MOTÔ. (No entanto tentei algo mais perto do amor niilista.)]
e disse:
- A estrutura da água apresenta a forma de um tetraedro distorcido.}

: Dessa vez foi por pouco! (Pensei em minha cadeira de aleijado. Ou era de idoso? Whatever!).

CONTINUA...

6 comentários:

Maria Lemos Lins disse...

eu gostei.

Anônimo disse...

que merda.kkkkkkkkkkkkkkkk. tu sois uma comedia mané. acordaaaaaaa

Anônimo disse...

Ribeiro
Gostei alma, muito interessante:) foge bastante do comum mas não comete a indelicadeza de mergulhar no subconsciente sem classe .... gostei mesmo.

neco tabosa disse...

ARRASTA MOTÔ!
um conto de mobilidade urbana fantástica :D
continua aí, monstro!!

HVB disse...

continuarei!

Maíra Egito disse...

massa o texto!
tu é do tipo que desperta inveja de anônimo, é? dessa eu não sabia!
só sendo famoso mermo! hehe