quinta-feira, 26 de maio de 2011

MANUEL BANDEIRA - Um Modernista Sem Modernidade

INTRODUÇÃO

Os poetas, assim como os artistas em geral, são tidos sempre como intérpretes de seu tempo. Há a idéia mítica de que os artistas têm o mágico poder de desvendar a realidade objetiva, além de toda subjetividade das emoções humanas.

Nos escritores, o compromisso com a realidade social que os cerca parece ser cobrado de forma mais contundente pelos leitores e até pela crítica; mesmo que estes se satisfaçam com o mínimo de verossimilhança com o mundo que ali se revele. Mas a magia da linguagem se estende e se desdobra face aos encantos (ou desencantos, no caso de Manuel Bandeira) com o mundo vivido pelo autor.

O significado de um poema pode atravessar as fronteiras da interpretação; contudo, sempre haverá interpretações mais “acertadas”, por assim dizer. Historicamente, sempre existiram formas de controle da interpretação, de autoridades interpretativas; sejam individualizadas (sujeitos/especialistas) ou simbólicas (sociais/ideológicas).

“há modos de interpretar, não é todo mundo que pode interpretar de acordo com sua vontade, há especialistas, há um corpo social a quem se delegam poderes de interpretar. (...) Diante de qualquer fato, de qualquer objeto simbólico somos instados a interpretar, havendo uma injunção a interpretar. Ao falar, interpretamos. Mas, ao mesmo tempo, os sentidos parecem já estar sempre lá.” (Orlandi, 1999,p.10)

Porém não é possível, na arte, uma estética, só do autor, totalmente desvinculada da realidade. Bandeira era um modernista de ritmos tradicionais, que buscava o belo num tempo em que estava em jogo uma ruptura estética com este belo; ruptura esta que refletia uma nova visão para um mundo moderno.

No entanto, também havia em Manuel Bandeira um quebra estética que se ressaltava em seu pseudo-classicismo com o verso livre como lirismo habitual. A questão aqui é: Como um poeta moderno conseguia “deixar de fora” um mundo moderno que o cercava? Ou melhor, como tal poeta conseguiu camuflar este mundo trágico em seus poemas trágicos?

“Não como és hoje,

Mas como eras na minha infância,

Quando as crianças brincavam no meio da rua

(não havia ainda automóveis) (...)

eras um recife sem arranha-céus, sem comunistas, (...)”

Farei então, a partir de poemas de Bandeira, uma interpretação lítero-sociológica da modernidade dentro de seu modernismo. O poeta enquanto ser social e agente e sua arte como visão de mundo e representação da estrutura.

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