quinta-feira, 7 de junho de 2007

DIÁLOGO SUPRA-SURREAL ENTRE BENJAMIN E McLUHAN

introdução involuntária

Esta breve comunicação, traz às cordas da ciência uma conversa meio discursiva e quase despretensiosa entre dois personagens hipotéticos "desconhecidos" (num momento em que a razão técnico-metodológica do conhecimento dá lugar ao “grande” poder do discurso – e olhe que não estamos falando de Habermas nem de Foucalt.).

Tratamos aqui, mesmo lúdica ou oniricamente, de Walter Benjamin e sua arte reprodutível e de Marshall McLuhan e suas extensões humanas. Sem a pretensão de apontar nitidamente pontos de convergência ou divergência entre os autores e suas teorias, contudo transportando-os a um outro mundo onde a interpretação ou interação também é possível; dando oportunidade de explanação dos pensamentos de tais personagens e seus tormentos humanos de observadores e intérpretes da realidade.

A fim de transformar e atualizar suas análises, derramaremos aqui a visão dos autores, a partir do “ponto de vista de outrem” (mesmo que este (o ponto de vista) de nada valha) que não seja o deles nem o de ninguém; mesmo que o ninguém seja o autor deste trabalho...

Primeira e única parte:
Eis o encontro e a confusa discussão dos olhares.

Dez e pouca da manhã, sábado ensolarado e típico, estavam no mercado público de Camaragibe... Os artesãos já não existem mais ou transformaram-se todos em hippies e rastafaris. Os feirantes comunicam em alto e bom som o valor – aurífico – de suas mercadorias e a comunicação se ex-tende por toda fedentina do mercado (transformando aquele lugar). Os alto-falantes, das rádios difusoras, nos postes, prometem animação cultural e artística, logo mais à noite, na praça.

Caminhando por entre as barracas, Mac e Ben convencem-se de que precisam sentar e tomar um quartinho para clarear as idéias.

Na barraca de Biu, todos estão de olhos vidrados na tv onde um programa esportivo passa os gols da rodada. Na mesa ao lado o sujeito do açougue não se cansa de comparar a garota da sua rua com, como ele mesmo se refere: "a gostosa da Britney Spears"!

Mac, oferecendo um brinde, ergue o copo e diz:
- Estamos nos aproximando rapidamente da fase final das extensões do homem...

Ben franje a testa após entornar a bebida e mantêm-se calado sem demonstrar abalo algum. Isso, obviamente, faz com que Mac continue sua explanação, sentindo que precisava explicar melhor o contexto; e continua:
- Falo da simulação tecnológica da consciência, pela qual o processo criativo do conhecimento se estendera coletiva e corporativamente a toda a sociedade humana, tal como já se fez com nossos sentidos e nossos nervos através dos diversos meios e veículos. Qualquer extensão - seja da pele, da mão, ou do pé - afeta todo o complexo psíquico e social.

- Encaras a obra de arte como uma extensão humana e também como passível de simulação tecnológica? Pergunta Ben, interessando-se pela conversa.

- Sim, mas...

- Digo-lhe antes de tudo que em sua essência a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens faziam e fazem sempre podia e pode ser imitado por outros homens. Em contraste, a reprodução técnica da obra de arte representa um processo novo, que se vem desenvolvendo na história intermitentemente, através de saltos separados por longos intervalos, mas com intensidade crescente.

- É meu amigo! Fim da era mecânica, entrada da era da eletricidade. Chega de lentidão e de retardamento nas reações, hoje ação e reação ocorrem quase que ao mesmo tempo. É por isso que eu digo: A luz elétrica é informação pura!
Neste momento, na entrada do mercado, fleches e objetivas de câmeras fotográficas metralham o corpo de um garoto atropelado que tinha como ofício os malabares que fazia num semáforo ali da frente. O Biu da barraca comenta que foi vingança e que o rapaz andava fumando muita maconha; todos ouvem, mas ninguém liga.

Ben diz:
- Vê como o olho apreende mais depressa do que a mão desenha? O processo de reprodução das imagens experimentou tal aceleração que começou a situar-se no mesmo nível que a palavra oral - como esse relato do nosso amigo Biu. Agora aquele menino está contido virtualmente na fotografia.

- Graças aos meios elétricos, esta também é a Idade da Angustia! Responde Mac levantando novamente o copo e tomando uma talagada.

- Só que mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra, lugar onde se desdobra sua história, sua existência única. O aqui e agora do original constitui o conteúdo de da sua autenticidade, e isso escapa a sua reprodução técnica!

Fala Ben e fica de pé para ir ao banheiro, enquanto Mac o segue dizendo:
- Todas as culturas possuem seus modelos de percepção e conhecimento, que elas buscam aplicar a tudo e a todos. Numa cultura como a nossa, há muito acostumada a dividir e estilhaçar todas as coisas, como meio de controlá-las, é muito chocante lembrar, para efeitos práticos e operacionais, que o meio é a mensagem.

De dentro do banheiro grita:
- O que é que isso? Liquidação da cultura? Eu sei que o meio, assim como a arte, age direto no indivíduo e no social...

Enquanto continua Mac, um tanto mais perto da porta do banheiro:
- Claro, claro!... O conteúdo de qualquer meio ou veículo é sempre um outro meio ou veículo. Por exemplo, uma pintura abstrata representa uma manifestação direta dos processos do pensamento criativo, tais como poderiam comparecer nos desenhos de um computador...

- E a autenticidade? Responde Ben saindo do WC e dando a vez a Mac que entra em seguida. - A autenticidade de uma coisa é a quintessência de tudo aquilo que foi transmitido pela tradição, a partir de sua origem, desde sua duração material até o seu testemunho histórico. O que se atrofia na era da reprodutibilidade técnica da obra de arte á sua aura.

- E não foi isto o que aconteceu tanto na Física como na pintura, na poesia e na comunicação? A partir do momento em que o seqüencial cede ao simultâneo, entramos no mundo da estrutura e da configuração.

Neste momento aparece um pedinte, desses mendigos metidos a poeta (ou seria melhor profeta?). Ele entra na conversa e depois de tomar uma dose no balcão e filar um hollywood do Ben, retruca alvoroçado: "O grande estadista, o conquistador, o descobridor estão disfarçados com as suas criações até ao irreconhecível. A ´obra`, a do artista, do filosofo, só ela inventa quem a criou, aquele que dizem que a criou."

Então eles resolvem pagar a conta e sair andando para se livrar do bêbado impertinente metido a pensador. E Ben pergunta:
- Voltando ao assunto, você não tem medo que a aura suma? Cê sabe que a arte tem uma função ritual e um fundamento teológico!? E esta figura singular que é a aura, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais que ela esteja. Pois veja, no momento em que o critério da autenticidade deixa de aplicar-se à produção artística, toda a função social da arte se transforma...

- Acho que o sujeito está preso aos meios e as tecnologias como em uma prisão sem muros; em constante conflito e em guerra com os mundos artísticos e do entretenimento.

- Mas quem sabe... (E é interrompido).

- Quem sabe o artista sério não é a única pessoa capaz de enfrentar, impune, a tecnologia, justamente porque ele é um perito nas mudanças de percepção?

- Sabe do que mais? Precisamos é de uma outra pinga. Ao Cubismo, ao Dadaísmo, ao Surrealismo, ao Modernismo...

- Ao Cinema Latino Americano Independente!...

- À Pós-contemporâneidade.

- Qual foi cara? Que papo é esse de Pós-contemporâneo?

- Brincadeira, mago, relaxe...

4 comentários:

Bernardo Jurema disse...

bem-vindo à blogosfera, velho!
=)

Qua disse...

Agora só falta o layout! =)

Gustavo Cabral @ Meta-understanding disse...

Por um segundo pensei que o Mendigo, com M maiúsculo pois não sei o nome dele, era o cara que ia dar uma dica aos jovens pensadores. Hehe. Mas como final Hollywood-ano esta fora de moda, eu nem ligo mesmo. Quando alguém resolver o "Turing Test" me avisem.

Cynthia Hamlin disse...

Muito legal seu blog, Henrique. Obrigada por enviar o link.

Abçs