Algumas vezes, qualquer pessoa, qualquer que seja, independente
do grau de instrução ou de afeto pelo social, deseja algum tempo sozinha! A
pessoa em questão pode estar de bem ou de mal; da vida e do mundo; de você ou
de alguém; mas esta pessoa quer, e tem o direito, de um tempo a só consigo
mesma.
Às vezes, tudo que se quer é um encontro de amigos.
Ah, como é saborosa a solidão entre amigos.
Amizades são sazonais (acho que já falei isso num texto
antigo!) e essa sazonalidade é pouco discutida entre os amigos. Amigos de fato
se desencontram. Amigos se encontram porque se gostam, não por terem alguma
obrigação datada e irremediável. Amigos de fato se abandonam. Amigos se
telefonam porque precisam se falar de dores e felicidades inconstantes e raras,
não por terem créditos e bônus de mil ligações para se telefonar.
Às vezes, tudo o que se pede é um simples encontro entre
amigos.
(Mas no dia e na noite, invariavelmente, rolam confusões...
E as pessoas guerreiam, os cães ladram, uns se machucam, outros choram, socos
voam, abraços caem, bebês pedem amamentação, mulheres são acusadas de abuso,
homens são tratados como canalhas, trabalhadores fazem greve, o trânsito
engarrafa, as escolas explodem, as vaginas secam, os pênis ressecam, os idiotas
se acham gênios, outros se acham Deus, ambulâncias gritam histéricas, tomates
apodrecem pra virar molho, crianças com fome comem terra e bêbados decentes reclamam
do aumento da gasolina.)
E às vezes, tudo o que se quer é voltar pra casa.
Voltar pro próprio berço...
Ou pra mulher amada.