Em 1968, Caetano Veloso
profetizou o que viria a ser parte de nosso futuro político enquanto nação, após
ser massivamente vaiado num festival de MPB da TV Record pela juventude dita
revolucionária da época, que não aturou a novidade estética trazida pela
tropicália. Caetano, em tom muito emocionado, praguejou contra a platéia: “Se vocês forem em política como são em
estética, estamos feitos”. O pior é que ele estava certo! Passado o regime
militar seria aquela juventude que assumiria o poder, agora velhos
politicamente influentes e nada revolucionários.
Se para o pensador argentino, José
Ingenieros, a velhice mediocriza os homens, para mim esse sintoma também pode
acometer os jovens, tornando-os caretas. E esse processo de encaretamento traz
consequências nefastas para a sociedade.
É difícil aceitar o novo. Os
mecanismos de apreensão do mundo sempre resistem às mudanças. Esses mecanismos
cognitivos são formados no choque entre os corpos e entre os campos de força
que estruturam o sistema social vigente. Como disse Marcuse, “o homem é dominado pela riqueza em expansão
de seu meio econômico, social e político, e vem a esquecer que seu livre
desenvolvimento é a meta final de todas essas obras; em vez disso, rende-se a
seu império. Os homens sempre procuram perpetuar uma cultura estabelecida;
assim fazendo, perpetuam sua própria frustração”.
É mais ou menos isso que penso
quando vejo, no período eleitoral, tantos jovens se portarem politicamente como
seus avós. Acham-se revolucionários e não passam de pequenos conservadores
repetindo o esquema no qual estão inseridos. Acham-se punks anarquistas, mas
não passam de yuppies capitalistas. Todos querem propostas (mesmo que não sejam
executadas ou executáveis), mas não novas idéias. Todos têm teses; nenhum
antíteses!
Será que não temos o direito de
apresentar uma nova textura política para o tecido social? Mesmo que o primeiro
passo seja predominantemente estético? Mudemos a forma agora e o conteúdo logo
em seguida, posto que o limite entre a forma e o conteúdo já caiu por terra
antes mesmo daquela vaia dirigida a Caetano Veloso. Somos de uma outra geração,
creio eu que mais ética e bem mais divertida. Não queremos enricar, não
precisamos de mais milionários, precisamos de justeza social e crescimento
intelectual. Queremos leveza no coração e liberdade na alma. E só através da
estética é possível romper com a ordem epistemológica estabelecida. Só
esteticamente conseguiremos sublimar essa política objetal. Chegou a hora da
catarse, meus amig@s, chegou a hora de uma nova política para os novos cidadãos
que aí estão e que hão de vir.